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Potiguar é selecionada para bolsa Fulbright nos Estados Unidos

Potiguar Juliana Marques. Foto: Cedida

Entrou no curso de Letras – Inglês, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), aos 17 anos. Trocou de graduação. Retornou. Tornou-se bolsista. Professora. Mestranda. E hoje escolheu a universidade de Cornell, nos Estados Unidos, para se tornar a única potiguar a participar do projeto Fulbright. Essa é a persistente Juliana Marques de Souza, que superou desafios e agora está prestes a embarcar para Nova Iorque. Ela embarca em agosto para estudar na Universidade Cornell.

Jovem e um pouco indecisa, Juliana ingressou no ano de 2013 na UFRN, e tornou-se caloura do curso de Letras, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). No início, a estudante não sentiu afinidade com algumas disciplinas: “Primeiro semestre, eu só gostava das disciplinas que eu falava inglês. O resto da linguística não queria de jeito nenhum”.

No ano seguinte, em 2014, a caloura optou por trocar de graduação. Ela passou para Serviço Social. E logo simpatizou com as disciplinas do curso. “Serviço Social foi um pouquinho o contrário: eu absolutamente me apaixonei por todas as disciplinas, eu adorava e tudo mais”.

Mesmo gostando das disciplinas, a estudante viu que não conseguiria exercer a profissão. Ela achou que não era esse o curso ideal naquele momento. “Era algo que eu não conseguiria fazer, eu seria frustrada profissionalmente”.

Foi quando surgiu a oportunidade, ainda em 2014, de participar de uma seleção para ser professora do Instituto Ágora. Juliana abraçou a ideia. Eram quatro vagas, mas havia uma condição: as oportunidades eram destinadas para estudantes de Letras Inglês, sua antiga graduação.

“A coordenadora, na época, disse que deveria dar prioridade para quem era de Letras Inglês, e eu não era mais. Mas eu disse: ‘se eu passar, eu volto’. Eu fiz uma prova muito boa. Mas tinha que dar uma aula de 20 minutos. Eu fui lá, fiz, e passei em segundo lugar”.

Juliana acrescenta: “Aí tomei isso como um sinal da vida, do destino, dos orixás, de Deus, o que fosse. E voltei para Letras Inglês. Então, eu entrei em 2013, passei em Serviço Social em 2014, e depois, em 2015, eu realmente voltei para ficar”.

Na segunda passagem pela graduação, a visão foi completamente diferente. Inclusive, agora atuando como professora substituta do Instituto Ágora. “Eu descobri que eu amo muito Linguística. Inclusive, eu estudo até hoje. Eu vi que eu gostava muito de dar aula, uma coisa que eu jamais pensei que eu fosse gostar. Eu me sinto muito confortável dentro de sala de aula”.

Lado cientista

Juliana estava dando aulas, até que apareceu outra oportunidade de ser bolsista, através do Projeto Acerta, do Instituto do Cérebro, que é um programa que auxilia crianças em risco de aprendizagem, principalmente com dislexia e discalculia.

Foi nesse momento em que Juliana teve contato com renomados pesquisadores, como Sidarta Ribeiro, Natália Mota, e como sua própria coordenadora do projeto, a professora Janaina Weissheimer, do Departamento de Línguas e Literaturas Estrangeiras Modernas (Dllem).

“Eu estava lá, e eu, tipo, caramba, eu quero ser elas. Isso despertou muito meu lado cientista, sabe? De perceber o quanto eu amo fazer Ciência”.

Durante a graduação, surgiu a oportunidade de participar de outro projeto, o Letras Sem Fronteiras. Juliana decidiu tentar e passou em primeiro lugar. O programa a levou para passar dois meses na Troy University, no estado do Alabama, Estados Unidos. “Eu fui lá para fazer pesquisa e para observar, para encontrar umas disciplinas para eu poder trazer um pouquinho de volta depois ao Brasil”.

Mestrado

A partir do segundo ano da graduação, Juliana já tinha certeza de que queria ingressar em uma pesquisa de mestrado. E, no Brasil, ela sabia que para ser pesquisadora, precisava se aprofundar ainda mais na carreira acadêmica.

“Eu já tinha certeza absoluta de que eu ia fazer mestrado. Para ser pesquisadora no Brasil, você precisa ser professor. Então, eu sabia que eu queria ser professora universitária. E para ser professora universitária, eu preciso de mestrado, eu preciso de doutorado”.

Mas o falecimento de um professor acabou abalando tanto a rotina dos alunos e colegas, que Juliana achou que não fosse abrir mais vagas para mestrado naquele ano. “Aí eu já estava vendo se iria mudar de linha [de pesquisa], vendo o que é que eu ia fazer”.

Até que uma nova oportunidade surgiu. Chegou uma proposta tentadora do Instituto do Cérebro, que era para trabalhar com games, também um hobby de Juliana. O projeto era com o Grapho Game, que auxilia crianças a aprender a ler as primeiras letras, sílabas e sons. “E aí era tudo que eu queria, porque eu amo jogar. E eu queria também unir isso de alguma forma à aula em inglês”, disse.

No entanto, a pressão foi enorme. Isso porque a sua coordenadora ainda tentaria abrir a vaga, e ela teria que ser aprovada após diversas etapas. O receio de não conseguir e de decepcionar era enorme.

“Eu já tinha aquela pressão, além de passar por mim, eu tenho que passar para eu não fazer feio. Não iria abrir vaga, e de repente vai abrir”. No fim, Juliana passou. “Eu passei, passei pra ela, graças a Deus. Eu vi um peso saindo das minhas costas. Mas, mal sabia eu, o que viria depois”.

Pandemia

Juliana ingressou no mestrado em 2021. Mas, em 2020 veio a pandemia da Covid-19 e tudo mudou. O projeto do mestrado precisava da participação de alunas nas escolas, mas isso foi interrompido devido ao isolamento, e seu trabalho precisou ser totalmente modificado.

“Eu fazia a pesquisa com o Grapho Game, e essa pesquisa precisava ser feita em escola. Eu precisava ir às escolas, estar presente. Tem uma pesquisa de um jeito, e veio a pandemia, e eu precisei mudar ela inteira. Foi um dos piores períodos da minha vida. Eu, nessa época, tive depressão, fui diagnosticada com ansiedade”.

Mas com o apoio incondicional da sua coordenadora, colegas e amigos da pós-graduação, a estudante tentou seguir em frente e correu contra o tempo para terminar o trabalho no prazo. E conseguiu.

“De pouquinho em pouquinho que eu consegui me qualificar, em dezembro de 2020. Em 2021, eu, de fato, fui fazer a coleta de dados da minha pesquisa. Eu fiz em 2 anos em 6 meses. E consegui apresentar o trabalho, e ele virou um artigo belíssimo”.

Também em 2021, Juliana fez concurso para atuar como professora substituta do Instituto Metrópole Digital. Ela foi aprovada. E segue atuando, ainda com lágrimas nos olhos, até o dia 31 deste mês de julho, data de término do contrato.

“Eu adoro minhas turminhas de lá e os meus alunos. Até dia 31 eu sou professora de lá. Eu vou sentir muita falta deles”.

Programa Fulbright

Ainda no ano de 2020 abriram as inscrições para o Fulbright, que é um programa de bolsas de estudo no exterior. Naquele momento, Juliana prestou o concurso e não passou. Algo que só veio a acontecer no ano de 2022.

“Eu sou a prova viva também de que persistência às vezes é a chave, porque eu fiz uma vez e não deu certo em 2020, eu não passei no programa. E em 2022, abriu novamente, eu falei: eu vou fazer de novo, vou ajeitar o meu projeto e eu vou”.

Ela continua: “E eu estava desacreditada, porque eu já tinha terminado o meu mestrado, mas estava caçando PhD. E aí eu vi a oportunidade, fui e me inscrevi, como quem não dava nada. Até que eu passei pela entrevista, e depois da entrevista, passei geral”.

Juliana foi uma das oito selecionadas do Brasil inteiro para participar do programa, que leva estudantes a universidades americanas. A egressa da UFRN é a única do Rio Grande do Norte e uma das três do Nordeste.

O programa, no entanto, auxilia no investimento da bolsa, mas solicita que o candidato consiga o “sim” de alguma universidade. Ela foi aprovada em três: a Carnegie Mellon (Pittsburgh, no estado da Pensilvânia), Universidade de Connecticut (no estado de Connecticut) e a Universidade Cornell (em Ithaca, Nova Iorque).

Segundo Juliana, a disputa era boa, mas acabou escolhendo a Cornell. Pesaram na decisão: o clima na região, a escolha dos seus orientadores, e outras universidades próximas que formam o Ivy League, que é um cinturão que integra também Yale, Harvard e Princeton.

E a cereja do bolo é que a Cornell é a universidade em que Andy, personagem da série de TV The Office, estudou.

“Acabei ficando com a Cornell, porque foi o que me fez sentir um pouquinho mais aconchegada, e foi a que eu tive a oportunidade de visitar. E uma coisa que toda vida que eu conto para os meus amigos: ah, eu vou estudar na Cornell, lembra o aniversário do Andy? Eu vou estudar onde o Andy estudou”, contou.

Agora RN