
Aos 23 anos, o jovem Erick Matheus Sousa de Medeiros tem um objetivo ousado: estudar em Harvard, considerada uma das melhores universidades do mundo. Atualmente, o rapaz é aluno do sétimo período de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e passou para uma graduação sanduíche na instituição americana. Este formato, de nome diferente, é dado para um tipo de graduação na qual o aluno sai do seu país de origem para estudar temporariamente em outro. Para realizar o sonho, Erick está fazendo uma campanha virtual e espera arrecadar R$ 150.000.
A inscrição para o programa na universidade americana foi feita em abril desde ano, e o resultado veio em maio. No dia 24, ele lançou uma vaquinha online nas redes sociais. Na primeira semana de arrecadação, já conquistou mais de R$ 10.000, vindos de 158 doadores. Agora ele corre contra o tempo para reunir o dinheiro total até 1 de julho, quando precisa dar uma resposta à universidade. As aulas estão previstas para serem iniciadas em agosto e devem ir até dezembro de 2022.
Para ajudar na divulgação, ele publicou um vídeo nas redes sociais em que relata sua conquista. O vídeo tem cerca de 200 mil visualizações, e tem impressionado o jovem. “Muita gente veio me seguir, veio doar depois disso. E o que eu acho bom é que esses R$ 10 mil, a grande parte foram de diversas pessoas que doaram um pouquinho que elas tinham”, relata
Do Potengi para Harvard
Filho de um pai taxista e de uma mãe dona de casa, Erick possui uma trajetória humilde. “Eu sou a primeira pessoa da minha família a entrar na faculdade, e a última pessoa que você imaginaria que seria a primeira pessoa do Estado a fazer uma graduação em Harvard”, descreve. “Você ia pensar no menino que é filho de um engenheiro e de uma médica que mora no Tirol e que já fez um intercâmbio no Canadá. Essa pessoa ia ser o super óbvio”. Por isso, apesar do valor alto, ele diz que tem “muita fé”.
Nascido e criado no bairro Pajuçara, zona Norte de Natal, hoje ele mora no Potengi, mesma região. Ex-aluno do IFRN Campus Zona Norte, diz que antes de optar pela área da saúde cogitou outros cursos. “Eu já quis ser tudo: policial, bombeiro, físico, até exorcista”, brinca.
A escolha pela Medicina veio por um fato triste. “Comecei a ter um interesse pela Medicina vendo séries, mas o que me marcou mesmo foi quando eu fui ser voluntário do CVV [Centro de Valorização da Vida], que é o serviço de atendimento para pessoas em situação de suicídio”, diz. Com 18 anos, Matheus perdeu o melhor amigo por suicídio, e ele próprio possuía depressão.
“No caminho de tentar me curar, de tentar fazer algo melhor pela minha vida, eu já sabia na época que eu era muito bom em ajudar outras pessoas, então eu fazia parte de vários grupos de pessoas com problema de saúde mental, com depressão, e sempre tinha alguém lá precisando de um desabafo”, revela o jovem.
No voluntariado, em que afirma que foi o mais jovem da história do CVV, se deparou com uma história que o marcou. O Centro atende por meio de ligações por telefone. Durante uma madrugada, por volta da meia noite, recebeu o chamado de um empresário de São Paulo. Após trair a esposa e cometer outros erros com a família, segundo relatou na ligação, os parentes haviam o deixado.
“Ele rico, com muito dinheiro, mas uma pessoa totalmente frustrada e triste com a vida porque não tinha mais a família. E naquele dia ele tinha comprado uma arma e decidido se matar”, lembra Erick. A mudança de rumo de uma vida que poderia ter sido perdida veio na chamada com o estudante. “Fiquei conversando com ele por um bom tempo e no final ele disse algo que me marcou: ‘hoje você salvou a minha vida e por sua causa amanhã eu vou poder abraçar os meus filhos’”, descreve. Depois de ouvir o que considera marcante, bateu o martelo: “vou ser médico”.
Após sair do ensino médio, onde se formou no curso técnico de Comércio, Medeiros fez o curso preparatório para o ENEM oferecido por uma universidade particular de Natal. O cursinho, pelo que se recorda, custava mais de 300 reais por mês na época, dinheiro que não podia pagar. Mas a instituição também ofereceu uma prova para que os melhores colocados ganhassem uma bolsa de desconto. “Foram mais de dois mil inscritos e os cinco primeiros lugares ganhavam bolsa de 100%. Eu fiquei em segundo lugar e ganhei essa bolsa de 100%, porque eu não tinha como pagar no final do período do cursinho”, recorda.
Após isso, Erick foi aprovado para o curso de Medicina na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) em Mossoró, mas preferiu continuar se preparando para estudar em Natal. Com os bons resultados obtidos, conquistou mais um desconto total em outro cursinho preparatório da capital natalense. Assim, foi aprovado com cotas de escola pública e renda na UFRN para o período 2019.1.
Depois de entrar na principal universidade do Estado, o jovem passou a almejar conquistas maiores: o período de estudos em Harvard. O primeiro passo veio na pandemia. “Desde a minha adolescência eu queria fazer um intercâmbio. Na pandemia, fecharam as aulas da UFRN, e eu disse ‘caramba, não estou tendo aula, estou aqui tranquilo em casa, vou pesquisar essas faculdades que eu queria ver nos Estados Unidos”.
Tribuna do Norte