O esporte brasileiro registrou 158 casos de discriminação e preconceito no ano passado, sendo 124 casos ligados apenas ao futebol. O número representa quase o dobro (97,5% a mais) do registrado em 2020. E, ainda que naquele ano as arenas esportivas tenham ficado vazias por causa das restrições impostas pela pandemia – assim como boa parte do ano passado -, o crescimento coincide com o aumento de casos registrados desde 2016.
Os dados fazem parte do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol, elaborado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol e apresentado nesta quarta-feira durante seminário que está sendo realizado na CBF. O levantamento faz referência a casos de racismo acontecidos dentro do País ou com jogadores brasileiros atuando no exterior. Além do futebol, o relatório também compilou casos envolvendo outros esportes.
“A intolerância demonstrada de diversas formas não está mais restrita aos estádios e à internet, como visualizado ano a ano em nossos relatórios. As denúncias envolvem ocorrências em programas esportivos, telejornais de rádio e televisão, sedes administrativas de entidades, veículos de transporte público, locais sociais e de lazer, entre outros”, diz trecho do documento, que tem ao todo 183 páginas.
A pesquisa aponta que, dos 158 casos, 137 ocorreram no Brasil e 21 com atletas brasileiros no exterior. E, do total de 124 envolvendo futebol, 74 dizem respeito à discriminação racial, 25 à LGBTfobia, 15 de machismo e dez de xenofobia.
Para Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, o aumento já era esperado. “A gente não teve nenhuma campanha, nenhuma ação, para que o racismo acabasse. E ele não vai acabar num passe de mágica, ele vai continuar existindo enquanto não houver uma campanha ou uma ação prolongada”, disse. “A gente não pode negar também que houve um aumento do discurso de ódio de governantes no Brasil e no mundo. Esse discurso de ódio faz com as pessoas racistas se sintam à vontade.”
Carvalho pontuou também que, desde a divulgação do primeiro relatório, em 2014, os casos ganharam maior visibilidade – e, com isso, jogadores, torcedores e imprensa também passaram a apontar com mais veemência para esses atos.
Na avaliação dele, a proposta da CBF de tirar um ponto de clubes envolvidos em casos de racismo a partir do próximo ano é um passo importante. “A punição é chave no processo”, avaliou. Ele ressaltou, contudo, que a medida precisa andar junto com campanhas de conscientização.
Estadão Conteúdo