Notícias

“Tudo de mais é veneno”; psicóloga Jéssica Barbosa explica o que é a positividade tóxica

É comum ouvirmos na nossa sociedade que o pensamento positivo nos fortalece, afasta os males ou que ficar refletindo demais com negatividade irá atrair maus momentos ou experiências ruins. A pressão para passarmos uma boa impressão, o estímulo a estarmos sempre alegres e a presença das redes sociais, especialmente o Instagram, são elementos que potencializam um comportamento na internet que às vezes não condiz com a realidade.

Em entrevista ao programa 90 Minutos, da Rádio Seridó 100,7, a psicóloga Jéssica Barbosa apresenta a positividade tóxica, os malefícios desse tipo de comportamento e como podemos encontrar maneiras mais saudáveis de processar nossos sentimentos.

Será que a solução é sempre pensar positivo e que o melhor irá acontecer independentemente da situação e do momento de vida cujo qual estamos passando? Às vezes, parar, processar uma emoção e refletir sobre ele é mais importante do que tentar se sentir feliz a qualquer custo.

Isso acontece porque, na nossa sociedade, tendemos a acreditar que precisamos passar por um processo de sofrimento ou punição para que possamos conquistar algo. No entanto, acreditar em uma estabilidade emocional sempre centrada na felicidade, sem que isso abra brechas para momentos de tristeza é uma ilusão. 

Todos nós sentimentos raiva, tristeza, medo, alegria, vivemos várias situações durante o dia que inevitavelmente nos levam a diversas sensações. Nos obrigar a um estado de felicidade inabalável é uma questão que pode acarretar problemas psicológicos. “Ela [a positividade tóxica] começa a ser um pouquinho mais danosa quando a gente entende que sentimentos negativos, como tristeza e raiva, fossem errados”

Todo excesso esconde uma falta

O uso intenso das redes sociais nos obriga a publicar situações e momentos nos stories apenas quando estamos felizes e em momentos de alegria, o que acaba por criar um ecossistema de pessoas que estão todo o tempo felizes.

“É cobrado um pouco mais de sempre estar bem, com um sorriso no rosto, das mulheres. Da mesma forma que o único sentimento que os homens podem ter é raiva e agressividade, as mulheres devem estar sempre felizes e dispostas a servir”, acrescenta Jéssica Barbosa, que lembra a exigências do comportamento feminino em ser sempre dócil e compreensivo.

Para ela, a obrigatoriedade em sempre viver uma sensação de felicidade ou de transparecer isso para as pessoas ao nosso redor nos leva a uma certa vigiância e a reprimir emoções consideradas negativas. “Eu tenho sempre que estar com um sorriso no rosto, o que isso acarreta? Um sentimento de culpa intenso”, justifica.

Por fim, a psicóloga defende que assim como os bons sentimentos, precisamos saber conviver e lidar com a tristeza, a raiva e a frustração, porque inevitavelmente irão surgir em diferentes momentos da nossa vida e são comuns no nosso desenvolvimento, não irão desaparecer e nem deveriam. “A tristeza precisa ser sentida, assim como os sentimentos bons”, conclui.