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Cursinhos populares preparam estudantes para o Enem

As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) serão aplicadas no segundo semestre e milhares de estudantes estão se preparando por meio de cursinhos populares gratuitos em todo o Brasil. Neste ano, o Ministério da Educação (MEC) impulsionará esses cursinhos e estudantes com o lançamento da Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP)

A rede foi regulamentada pelo Decreto nº 12.410/2025 e, em maio, foi publicado o Edital nº 1/2025, que habilitou 400 cursinhos na etapa inicial da seleção para formação da rede. A política oferecerá suporte técnico e financeiro aos cursinhos, com o objetivo de garantir que estudantes socialmente desfavorecidos, como indígenas, pessoas com deficiência, negros ou quilombolas, ingressem na educação profissional tecnológica e no ensino superior.  

Para participar, os estudantes precisam ter renda familiar per capita de até um salário mínimo. Serão priorizados alunos oriundos da escola pública. Além disso, os estudantes receberão bolsas de R$ 200 mensais para apoio à permanência nos estudos. Ainda terão acesso a recursos didáticos com metodologias preparatórias para o Enem e outros vestibulares. 

Para o MEC, essa ação tem caráter histórico pelo seu ineditismo. No Brasil, os cursinhos populares ou sociais já existiam e são oferecidos atualmente por universidades públicas, institutos federais, ONGs, coletivos sociais, prefeituras e governos estaduais. No entanto, eles não recebiam apoio financeiro e, também, não tinham nenhuma política pública de apoio. Em 2025, a CPOP prevê repasses de até R$ 163,2 mil por cursinho, incluindo auxílio financeiro para a contratação de coordenadores e professores e apoio para atividades técnicas e administrativas, além da bolsa para os estudantes. 

O professor de História da África Janderson Dias da Cunha, de 35 anos, é um dos fundadores do Pré-Vestibular Popular Cerro Corá, no Rio de Janeiro. O local recebe cerca de 30 estudantes, sendo a maioria negros. No cursinho, as aulas são ministradas por professores voluntários, muitos deles moradores da região. Para Cunha, o edital fortalece e reconhece os pré-vestibulares comunitários e sociais. “Esse edital vem para fortalecer e fomentar essas iniciativas. Eu acho muito importante e acho que o governo acerta em fortalecer os pré-vestibulares, que estão há muitos anos precisando de uma ajuda. O trabalho é voluntário, mas tem muitos custos, que às vezes saem do próprio bolso de quem está dentro dessa luta”, afirma. 

Cunha ainda destacou que a iniciativa valoriza os jovens desfavorecidos que sonham em entrar na universidade. “Com o ingresso no ensino superior, os estudantes poderão fortalecer a sua comunidade e o seu território, seja nas favelas, seja dentro da universidade”, completa. 

Luana Lopes, ex-aluna do Pré-Vestibular Popular Cerro Corá, conta que a iniciativa foi fundamental na sua vida, pois, além de aprender as disciplinas, ela começou a fazer parte de um coletivo. Segundo ela, a sua turma recebeu o nome de “Pé na porta”, por ser muito ativa e presente. Ela lembra que, enquanto estudava no cursinho, o local recebeu a visita da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, que apoiava o projeto. 

“Isso mudou a minha vida e tem me impactado até hoje. Estou fazendo minha graduação em enfermagem e daqui a pouco eu me formo, graças ao pré-vestibular, que mudou a minha mentalidade. Não só a minha. O cursinho impactou muitas vidas, inclusive a do meu irmão. Hoje ele já está finalizando a faculdade de letras com literatura inglesa na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], onde passou em oitavo lugar. Ele conseguiu passar na UERJ também em primeiro lugar, mas na época que ele ia tomar posse, a UERJ entrou em greve”, ressalta. 

O coordenador do Cursinho Pré-Loyola, Alan Matheus Gloss, também oferece um retrato da sua experiência na preparação dos jovens. A instituição atende cerca de 30 estudantes de regiões administrativas do Distrito Federal, como Recanto das Emas, Riacho Fundo, São Sebastião, Planaltina e Guará. O cursinho funciona no Centro de Juventudes da Companhia de Jesus (Jesuítas). “Todo trabalho que o cursinho realiza é de fato muito importante para a vida desses jovens e dessas jovens que fazem parte desse projeto, porque possibilita abrir horizontes, olhar além daquilo que se apresenta ali para eles que, às vezes, são realidades muito difíceis. E eles persistem na busca por um futuro melhor, por uma vida digna”, afirma. 

Para Alan, fazer parte do projeto é ajudar os jovens a sonharem com um futuro melhor e, mais do que isso, “sonhar com eles esse futuro”: “É apostar nas periferias, apostar nessa revolução que a educação pode fazer na vida de cada um. Muito mais do que ensinar, a gente aprende. Parece uma frase um pouco clichê, mas é verdade. Nessa missão que é educar, temos a possibilidade de transformar vidas e sonhar um futuro cheio de esperança para eles”. 

Estudante do Pré-Loyola, Maurício de Jesus Oliveira, 26 anos, conta que o cursinho tem uma importância enorme, especialmente em contextos de desigualdade social e educacional. “Esses cursinhos são iniciativas de preparo, cuidado e atenção de todos os professores e coordenadores, para que possamos ter um bom desempenho na prova. Quero alcançar meu objetivo, que é passar para ciências políticas ou pedagogia, para seguir o caminho da educação popular”, relata.  

CPOP  A Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP) foi lançada no dia 10 de março e é regulamentada pelo Decreto nº 12.410/2025, assinado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo ministro de Estado da Educação, Camilo Santana. A CPOP apoia cursinhos populares no Brasil, garantindo suporte técnico e financeiro para a preparação de estudantes da rede pública socialmente desfavorecidos, especialmente negros e indígenas brasileiros, que buscam ingressar no ensino superior por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de outras formas de ingresso. 

Com um investimento inicial de R$ 24,8 milhões para 2025, a rede apoiará 130 cursinhos já no primeiro ano, beneficiando 5.200 estudantes do Brasil. Até 2027, o valor global chega a R$ 74,5 milhões, com 390 cursinhos populares apoiados. Poderão participar do programa jovens e adultos oriundos da rede pública, com uma renda per capita de até um salário mínimo. 

Os principais objetivos da CPOP são: fortalecer cursinhos pré-vestibulares populares e comunitários; elaborar orientações focadas no Enem para a estruturação e a implementação de ações de formação nos cursinhos da rede; preparar os estudantes, ampliando a possibilidade de acesso ao ensino superior, principalmente de pessoas negras e indígenas; contribuir para retomada do interesse do jovem brasileiro pelo Enem, que voltou a crescer em 2023; e contribuir para a ocupação de vagas em cursos de graduação de instituições federais.